Território e desenvolvimento

    O território e o uso que dele se faz      

“O fundamento intelectual das realizações de ordem prática é, por conseguinte, ideológico, ainda que apresentando resultados práticos.”

MILTON SANTOS – geógrafo

A região metropolitana de Porto Alegre é composta por 31 municípios. Destes, nada menos que 26 caberiam dentro do território de Livramento!

Nossa cidade vive uma crise cujas causas principais encontram-se na estrutura fundiária e no modelo econômico. Ou seja, na forma como está distribuída a posse da terra e o tipo de uso que se faz dela.

A terra está concentrada nas mãos de uma minoria, e o tipo de uso é hegemonizado pela pecuária extensiva, com poucas iniciativas de diversificação. Essa combinação concentração/monocultura colocou em processo de estagnação nossa economia há varias décadas. É uma dinâmica lenta, gradativa e irreversível.

O modelo encontrou o seu ápice no período que vai do início até a metade do século passado. Esse foi o auge dos frigoríficos, aquecidos pela demanda européia cuja economia foi estraçalhada pelas duas grandes guerras. Passado esse período a economia capitalista européia se recompõe, e tem início em nossa região o processo de decadência de uma atividade produtiva voltada quase que exclusivamente para a exportação.

E aqui temos um problema de ordem política. A elite oligárquica da cidade – burguesia agrária – que governou Livramento desde sempre, com raros intervalos de governos ligados a outros setores econômicos, mesmo enxergando que o seu próprio modelo de acumulação capitalista estava em crise, foi incapaz de sinalizar com um outro caminho. O resultado não poderia ser outro: a economia estagnou, os frigoríficos fecharam, e a cidade, que há seis décadas atrás foi o terceiro parque industrial do estado, desapareceu desse mapa como que por encanto.

Como foram capazes de virar as costas para um vendaval que se avizinhava!? Ou será que foram míopes o suficiente para não enxergá-lo?

Para os 185 proprietários de mais da metade de nosso território, o modelo está bom. Essa gente não vive em Livramento, mas de Livramento.

Contudo, ocorre que o problema é que estamos nos referindo a uma solução de futuro para a imensa maioria de nossa população. Estamos falando, por exemplo, de uma alternativa econômica para as mais de 2.000 propriedades rurais que não chegam a ocupar 10% de nosso território. E estamos falando, também, da democratização da posse da terra, através do instrumento legítimo da reforma agrária. Nenhuma região de nenhum lugar do mundo conseguiu se desenvolver com o predomínio do modelo do latifúndio. Esse é um modelo atrasado, que dialoga com os fantasmas do passado e vive de costas para o futuro.

Vamos encerrar com alguns dados estarrecedores e ilustrativos do que estamos falando. A região metropolitana de Porto Alegre é composta por 31 municípios. Destes, nada menos que 26 caberiam dentro do território de Livramento (ver tabela abaixo)!

Orgulhamo-nos de possuir o 2º maior território do estado, mas não temos o mínimo controle sobre seu uso. Os que o detêm, operam uma lógica exclusivamente individualista, que não dialoga com a idéia de um projeto coletivo de desenvolvimento econômico e social. Conseqüência direta disso é o atual quadro de crise e desemprego, que joga o nosso povo dia após dia para uma espécie de exílio econômico, buscando trabalho em outras regiões do estado ou até mesmo fora dele.

Poderíamos, há muito tempo, ser uma potência regional, se tivéssemos na maior parte desse imenso e promissor território o predomínio de pequenas e médias propriedades, com diversificação de atividades agropecuárias e agregação de valor através da indústria. Não estamos predestinados e tampouco condenados a não ter solução. Ao contrário, a solução passa pela superação do modelo atual, através da ação consciente dos agentes políticos e econômicos que estejam dispostos para tal.

Não serão tarefas simples, prazerosas e lineares, como passear pela Sarandi em um domingo à tarde, e sim algo como abrir picada a facão no meio da mata densa. Tarefas duras e desafiadoras, mas que não assustam nem abalam a vanguarda mais lúcida da classe trabalhadora e dos setores médios da cidade, que lentamente começam a trilhar esse sinuoso caminho em direção a um futuro de dignidade para a nossa gente.

Município/Área(Km²)

1. Alvorada / 71

2. Cachoeirinha / 44

3. Campo Bom / 161

4. Canoas / 131

5. Estância Velha/ 52

6. Esteio / 28

7. Gravataí / 464

8. Guaíba / 377

9. Novo Hamburgo / 224

10. Porto Alegre / 497

11. São Leopoldo / 102

12. Sapiranga / 137

Sobre Glauber Gularte Lima

Vereador, professor, candidato a prefeito do município de Santana do Livramento / RS / Brasil.
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Uma resposta para Território e desenvolvimento

  1. jose ricardo disse:

    estou fazendo um estudo para apresentar um trabalho sobre territorio e desenvolvimento, na disciplina de sociedade e espaço, e a análise que voce faz de sua regiao vai servir como exemplo para meu trabalho. achei muito boasua analise e concordo plenamente com sua posiçao frente a latifundiarios especuladores.

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